A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME) tem oferecido periodicamente informações que possibilitem aos profissionais da área de saúde a atualização em temas relacionados às ciências do esporte. Uma das ações que tem se mostrado muito eficaz é a publicação de Posicionamentos Oficiais ou Consensos.
Desde 1996 já foram publicados três documentos com estas características:
1) Atividade Física e Saúde em Indivíduos Aparentemente Saudáveis
2) Atividade Física e Saúde na Infância e Adolescência
3) Atividade Física e Saúde em Indivíduos Idosos
O documento que se desenvolve a seguir, "Atividade Física e Saúde na Mulher", é a última etapa de uma importante meta da SBME de abordar os quatro grandes temas relacionados à atividade física e saúde.
Esta publicação representa o posicionamento oficial da SBME sobre atividade física e saúde em indivíduos do sexo feminino (atletas ou não atletas), visando ampliar a recomendação da prática de atividade física pelos profissionais de saúde que lidam com esse grupo. Os interessados em se aprofundar no tema devem consultar a bibliografia relacionada.
JUSTIFICATIVA
O preconceito em relação à participação da mulher em atividades esportivas remonta à Grécia Antiga, quando ela era proibida até mesmo de assistir aos Jogos Olímpicos. Durante muito tempo ela foi poupada da prática de esportes pela crença de que o exercício poderia ser prejudicial à sua saúde. Posteriormente, foi permitido o seu ingresso em algumas modalidades de exercícios leves, que não trouxessem "risco" de complicações a um grupo que ainda era considerado frágil e provavelmente não resistiria a esforços mais intensos. Apenas em 1972 as mulheres foram admitidas a participar de competições oficiais de maratonas e outros eventos de mais longa duração.
A literatura médica até recentemente não apresentava dados epidemiológicos consistentes a respeito do impacto da atividade física sobre a saúde das mulheres. Tal lacuna vem sendo corrigida com estudos recentes.
Em 1996, Blair e colaboradores publicaram um acompanhamento de 8.900 mulheres, por 10 anos, demonstrando que o fator de maior peso na mortalidade geral foi a baixa aptidão física, superando todos os demais principais fatores de risco, inclusive o tabagismo. Das sucessivas publicações decorrentes da coorte das enfermeiras, extraímos que o acompanhamento por 16 anos de 84.129 mulheres mostrou incidência de 1.128 eventos coronarianos maiores (296 mortes e 832 infartos agudos do miocárdio não fatais), inversamente correlacionada com atitude favorável ao estilo saudável de vida (exercício físico regular, dieta adequada e restrição ao tabaco); 72.488 enfermeiras de 40 a 65 anos de idade, em oito anos, apresentaram 407 casos de acidentes vasculares encefálicos, forte e inversamente correlacionados à atividade física.
Os benefícios da atividade física têm sido comprovados em ambos os sexos. Na mulher esta abordagem adquire algumas características próprias que incluem desde as diferenças do perfil hormonal, passando pela incidência de determinadas patologias, até as respostas e adaptações ao exercício. Na redução da pressão arterial, por exemplo, encontram-se trabalhos que mostram que a mulher, através do exercício, apresenta uma resposta de redução dos níveis tensionais mais eficiente que o homem. É importante considerar o impacto causado pelo aumento da expectativa de vida na população e o papel social e profissional adotado pela mulher nos últimos anos. Esses fatores impõem uma revisão no estudo de diversas patologias e nas novas perspectivas de prevenção e tratamento das mesmas. Neste contexto a atividade física regular ocupa lugar de destaque.
Maiores informações:
Marcelo Bichels Leitão; José Kawazoe Lazzoli; Marcos Aurélio Brazão de Oliveira; Antonio Claudio Lucas da Nóbrega; Geraldo Gomes da Silveira; Tales de Carvalho; Eney Oliveira Fernandes; Neiva Leite; Alice Volpe Ayub; Glaycon Michels; Félix Albuquerque Drummond; João Ricardo Turra Magni; Clayton Macedo; Eduardo Henrique De Rose. Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: atividade física e saúde na mulher. Rev Bras Med Esporte vol.6 no.6 Niterói Nov./Dec. 2000.
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