quarta-feira, 15 de junho de 2011

Bochecho com carboidrato pode melhorar desempenho de maratonistas

Na minha visita ao Programa de Pós-Graduação em Nutrição da UFAL, conheci um grupo de estudantes de educação física e nutrição liderados pelo Prof Dr Adriano Eduardo Lima. Tivemos um encontro científico para discutirmos os projetos de pesquisa que podem ser realizados em colaboração com o nosso grupo aqui da UFPE. Embora todos os projetos apresentados pelo Prof Adriano na área de treinamento físico e desempenho tenham sido muito interessantes, um deles me chamou a atenção em especial. Pode o bochecho de carboidrato melhorar o desempenho de atletas?

Abaixo, algumas curiosidades sobre este assunto:

Os atletas podem aprimorar seu desempenho em sessões intensas de exercícios, em cerca de uma hora, simplesmente enxaguando a boca com uma solução de carboidratos. Nem mesmo precisam engolir. Para controle do experimento e evitar o efeito placebo, os cientistas usaram uma solução de água e um derivado de amido sem sabor, chamado maltodextrina.
Como funciona?
Parece que o encéfalo consegue detectar a presença de carboidratos na boca, mesmo aqueles sem sabor. Os sensores são diferentes daqueles para o doce, e estimulam o encéfalo a responder, incitando o atleta. Muitos atletas dependem de bebidas açucaradas para mantê-los em movimento. Porém, muitas vezes, quando o sangue é desviado do estômago para os músculos trabalhando durante exercícios intensos, bebidas ou alimentos causam cãibras estomacais. Assim, um enxaguante de carboidratos pode ser uma forma de obter o mesmo efeito. Você pode obter vantagem ao enganar seu cérebro, disse um descobridor do efeito, Matt Bridge, professor de ciência de treinamento e esportes na Universidade de Birmingham, na Inglaterra. Seu cérebro diz ao corpo: ¿Carboidratos estão a caminho. Com essa mensagem, músculos e nervos se preparam para trabalhar com mais força e por mais tempo. É um efeito relativamente pequeno, afirmou George A. Brooks, pesquisador de exercícios da Universidade da Califórnia, em Berkeley, que não estava envolvido na pesquisa. A descoberta teve início com algumas revelações intrigantes, na década de 1990. Até então, cientistas do exercício pensavam saber por que era indicado comer ou beber carboidratos durante um evento de longa duração, como uma maratona. Os músculos podem usar seu glicogênio, a forma de armazenamento da glicose, durante sessões longas de exercícios. Porém, se os atletas consomem carboidratos, eles podem proporcionar uma nova fonte de combustível para seus músculos famintos. Essa teoria previa que os carboidratos não surtiriam efeito de desempenho em corridas mais curtas, de uma hora ou menos. Os músculos não conseguiriam esgotar seu glicogênio tão rápido, e quando o corpo metabolizasse os carboidratos pelo combustível, a corrida já estaria quase terminada. Apareceram, então, um punhado de estudos mostrando que os carboidratos davam resultado em sessões mais curtas de exercícios. Atletas, muitas vezes ciclistas treinados, pedalavam com mais força e velocidade por uma hora após tomarem ou uma bebida contendo carboidratos, ou uma que tinha o mesmo sabor mas continha um adoçante artificial. Em sessões intensas de exercícios durando mais de meia hora, os atletas eram capazes de atingir maiores velocidades ¿ ou manter o exercício por mais tempo ¿ quando haviam bebido a solução com carboidratos. Seu desempenho melhorava até 14%. Alguns estudos, porém, não encontraram nenhum efeito. E a diferença parecia ser que os atletas com fome demonstravam um desempenho aprimorado. Isso não fazia sentido. Poderia o corpo, de alguma forma, metabolizar os carboidratos nas bebidas e colocá-los em uso em tão pouco tempo? Asker Jeukendrup, fisiologista de exercícios da Universidade de Birmingham, e colegas, resolveram testar essa ideia. Eles pediram que os ciclistas fizessem o mesmo percurso, mas que antes enxaguassem a boca com a solução de maltodextrina (ou, como controle, com água). Os resultados foram incríveis. Enxaguar a boca com carboidratos surtia o mesmo efeito que bebê-los. Enquanto isso, neurocientistas descobriram que cérebros de roedores, pelo menos, respondiam a carboidratos em suas bocas independentemente de sua resposta ao doce. Em seguida, Bridge e seus colegas de Birmingham usaram imagens funcionais de ressonância magnética para determinar se a glicose, que tem o sabor doce, teria o mesmo efeito no cérebro que a maltodextrina, de carboidratos sem sabor. Eles também testaram adoçantes artificiais para comparar. Os resultados de exames do cérebro confirmaram os resultados do estudo de exercícios: carboidratos ativam áreas do cérebro envolvidas com recompensas e atividade muscular. Os adoçantes artificiais, não.

O Prof Dr Adriano Eduardo Lima da Silva é Graduado em Educação Fisica, com mestrado em Ciências do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2005) e doutorado em Biodinâmica do Movimento Humano pela Universidade de São Paulo (2009). Atualmente é professor Adjunto I da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal da Alagoas (UFAL), atuando nos cursos de graduação (nutrição) e pós-graduação (mestrado em nutrição). Responsável institucional pelo convênio entre a Universidade Federal de Alagoas e a Universidade de Victoria-Australia. Em 2011 recebeu o prêmio Endeavour Research Fellowship do governo Australiano, um dos mais concorridos na Australia e no mundo.


Parabens ao Prof Adriano Eduardo e ao seu grupo de pesquisa da UFAL. Em breve, o Prof Dr Adriano Eduardo estará visitando o Núcleo de Educação Física e Ciências do Esporte do CAV-UFPE.

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