Ciências & Esportes

Conforme vimos falando, o Curso de Bacharelado em Educação Física quer estimular a construção do pensamento crítico em relação a prática do exercício físico sempre baseada na Ciência. Com isso, iniciaremos um trabalho de publicação de Resumos Científicos para que despertem o interesse para a contínua leitura desse tipo de literatura. Boa leitura a todos e aproveitem para ler o artigo todo!!!

EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CAFEÍNA SOBRE O DESEMPENHO FÍSICO
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 14(2):141-58, jul./dez. 2000
A cafeína é uma substância que não apresenta valor nutricional, sendo classificada como um alcalóide farmacologicamente ativo, estimulante do sistema nervoso central (SNC). No entanto, esta substância tem sido considerada um ergogênico nutricional por estar presente em várias bebidas consumidas diariamente, tais como o café, o chocolate, o mate, e algumas bebidas suaves à base de guaraná. O seu uso tem-se tornado bastante comum no meio esportivo, principalmente nos últimos anos, particularmente por atletas que disputam provas de resistência. A possibilidade de melhora do desempenho físico fez com que este alcalóide entrasse na lista de substâncias proibidas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), o qual estabeleceu o limite de 12 ug/ml de cafeína na urina como parâmetro para detecção de “doping”. Alguns estudos têm demonstrado que esses níveis podem ser alcançados com a ingestão de aproximadamente 9 mg de cafeína por quilograma de peso corporal. Todavia, estudos mais recentes têm evidenciado melhora no desempenho atlético com a ingestão de apenas 3 a 6 mg de cafeína por quilograma de peso corporal. Tais observações parecem colocar em risco o limite tolerável estipulado pelo COI, o que poderia favorecer a melhoria do rendimento por parte dos usuários. Esses fatos demonstram a necessidade de maiores investigações sobre o efeito ergogênico de diferentes dosagens de cafeína e, possivelmente, de revisão dos níveis de ingestão toleráveis.

Secreção da Insulina: Efeito Autócrino da Insulina e Modulação por Ácidos Graxos
Esther P. Haber, Rui Curi, Carla R.O. Carvalho, Angelo R. Carpinelli. Arq Bras Endocrinol Metab 2001;45/3:219-227
A insulina exerce um papel central na regulação da homeostase da glicose
e atua de maneira coordenada em eventos celulares que regulam os efeitos metabólicos e de crescimento. A sub-unidade β do receptor de insulina possui atividade tirosina quinase intrínseca. A autofosforilação do receptor, induzida pela insulina, resulta na fosforilação de substratos protéicos intracelulares, como o substrato-1 do receptor de insulina (IRS- 1). O IRS-1 fosforilado associa-se a domínios SH2 e SH3 da enzima PI 3- quinase, transmitindo, desta maneira, o sinal insulínico. A insulina parece exercer feedback positivo na sua secreção, pela interação com seu receptor em células B pancreáticas. Alterações nos mecanismos moleculares da via de sinalização insulínica sugerem uma associação entre resistência à insulina e diminuição da secreção deste hormônio, semelhante ao observado em diabetes mellitus tipo 2. Uma das anormalidades associadas à resistência à insulina é a hiperlipidemia. O aumento
do pool de ácidos graxos livres circulantes pode modular a atividade de enzimas e de proteínas que participam na exocitose da insulina. Essa revisão descreve também os possíveis mecanismos de modulação da secreção de insulina pelos ácidos graxos em ilhotas pancreáticas.
Novos mecanismos pelos quais o exercício físico melhora a resistência à insulina no músculo esquelético
José Rodrigo Pauli, Dennys Esper Cintra, Claudio Teodoro de Souza, Eduardo Rochette Ropelle. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009;53(4):399-408.
O prejuízo no transporte de glicose estimulada por insulina no músculo constitui um defeito crucial para o estabelecimento da intolerância à glicose e do diabetes tipo 2. Por outro lado, é notório o conhecimento de que tanto o exercício aeróbio agudo quanto o crônico podem ter efeitos benéficos na ação da insulina em estados de resistência à insulina. No entanto, pouco se sabe sobre os efeitos moleculares pós-exercício sobre a sinalização da insulina no músculo esquelético. Assim, esta revisão apresenta novos entendimentos sobre os mecanismos por meio dos quais o exercício agudo restaura a sensibilidade à insulina, com destaque ao importante papel que proteínas inflamatórias e a S-nitrosação possuem sobre a regulação de proteínas da via de sinalização da insulina no músculo esquelético.

O exercício físico potencializa ou compromete o crescimento longitudinal de crianças e adolescentes? Mito ou verdade?
Carla Cristiane da SilvaI; Tamara Beres Lederer GoldbergII; Altamir dos Santos TeixeiraIII; Inara Marques. Rev Bras Med Esporte _ Vol. 10, Nº 6 – Nov/Dez, 2004

A sociedade atual tem valorizado de forma significativa a aparência alta e esbelta. Essa constituição física tem sido reforçada desde a infância e atinge a população adolescente, que deseja enquadrar-se nos estereótipos, particularmente aqueles veiculados pela mídia. Nesse sentido, profissionais de saúde são questionados rotineiramente sobre os efeitos positivos que o exercício físico exerce sobre o crescimento longitudinal de crianças e adolescentes. Procurou-se revisar a literatura especializada a respeito dos principais efeitos que o exercício físico exerceria sobre a secreção e atuação do hormônio de crescimento (GH) nos diversos tecidos corporais, durante a infância e adolescência. Através dessa revisão, foi possível verificar que o exercício físico induz a estimulação do eixo GH/IGF-1. Embora muito se especule quanto ao crescimento ósseo ser potencializado pela prática de exercícios físicos, não foram encontrados na literatura científica específica estudos bem desenvolvidos que forneçam sustentação a essa afirmação. No tocante aos efeitos adversos advindos do treinamento físico durante a infância e adolescência, aparentemente, esses foram independentes do tipo de esporte praticado, porém resultantes da intensidade do treinamento. A alta intensidade do treinamento parece ocasionar uma modulação metabólica importante, com a elevação de marcadores inflamatórios e a supressão do eixo GH/IGF-1. Entretanto, é importante ressaltar que a própria seleção esportiva, em algumas modalidades, recruta crianças e/ou adolescentes com perfis de menor estatura, como estratégia para obtenção de melhores resultados, em função da facilidade mecânica dos movimentos. Através dessa revisão, fica evidente a necessidade de realização de estudos longitudinais, nos quais os sujeitos sejam acompanhados antes, durante e após sua inserção nas atividades esportivas, com determinação do volume e da intensidade dos treinamentos, para que conclusões definitivas relativas aos efeitos sobre a estatura final possam ser emanadas.

J Strength Cond Res. 2011 Feb;25(2):334-9.
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Este estudo investigou aspectos fisiológicos e de desempenho de 15 (4 mulheres e 11 homens) atletas de elite do Taekwondo (24,0 ± 5,7 anos) durante o Campeonato Nacional. A carga (intensidade) da competição foi avaliada por meio da freqüência cardíaca (FC) e de lactato sangüíneo (LA). Desempenhos pré- e pós-combate do salto contramovimento (CMJ), e da pegada foram comparados (p <0,05). O combate impos uma carga elevada (FC> 85% da FCmax = 92 ± 12%; La = 6,7 ± 2,5 mmol · L ¹) em atletas. Após a partida verificou-se uma melhor CMJ (Pós: homens: 43,9 ± 5,2 cm e Pré: homens = 40,8 ± 4,9 cm; mulheres: 30,8 ± 2,3 cm e Pré: mulheres = 28,2 ± 2,5 cm;p <0,0001) e pior performance de pegada (Pós: homens: 459 ± 87 N e Pré: homens = 486 ± 88 N, p = 0,006; Pós: mulheres: 337 ± 70 N e Pré: mulheres: 337 ± 70 N). Os resultados indicam que a atividade intermitente de competição de Taekwondo provoca uma ativação neuromuscular alta dos membros inferiores. Em vez disso, a diminuição da força de preensão pode ser por causa da abalos repetidos nos membros superiores usados ​​para proteger dos chutes e socos dos adversário voltados para a área de pontuação do tronco. Em termos práticos, estes resultados pode impulsionar os treinadores para a estruturação de sessões de treinamento os atletas permitindo manter a sua força de membros superiores durante o combate.

Ciência & Esporte III

Renata Rebello Mendes*, Ivanir Pires, Althair Oliveira, Julio Tirapegui. Effects of creatine supplementation on the performance and body composition of competitive swimmers. Journal of Nutritional Biochemistry 15 (2004) 473–478
Pesquisadores do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo realizaram um experimento com nadadores suplementados ou não com creatina. Este artigo foi publicado em 2004 no The Journal of Nutritional Biochemistry
O objetivo deste estudo foi determinar os efeitos da suplementaçao com creatina no desempenho e composição corporal de 18 nadadores. A acumulação de lactato, a composição corporal, a excreção de creatina e creatinina, e as concentrações de creatinina no plasma antes e após a suplementação foram avaliados. O grupo creatina recebeu 4 doses de 5.0 g de creatina com 20.0 g de carboidrato por dia (durante 8 dias). O grupo controle só recebeu 20.0 de carboidrato (durante 8 dias).
Nenhuma diferença foi encontrada nos marcadores obtidos nos testes de natação depois da suplementação com creatina. No grupo que foi suplementado com creatina, houve um aumento na creatina urinária, creatinina, peso corporal, massa magra e água. Não houve diferença na massa do músculo e ossos. Estes resultados indicam que a suplementação com creatina NÂO pode ser considerada um agente ergogênico para melhorar o desempenho e o ganho de massa muscular em nadadores.

Ciências e Esporte II
Diagnóstico e gerenciamento de jovens atlelas de elite submetidos a intervenção para arritmias cardíacas.
Kelly J, Kenny D, Martin RP, Stuart AG. Arch Dis Child. 2011 Jan;96(1):21-4.

A morte súbita cardíaca é a causa mais comum de mortalidade em jovens atletas. Em alguns desses casos, a via final é a arritmia cardíaca. Os autores do presente estudo teve como objetivo identificar a incidência, diagnóstico e tratamento de atletas submetidos a investigação e intervenção para arritmias cardíacas.
MÉTODO: Análise retrospectiva de todos os pacientes entre 10 e 17 anos apresentados a unidade supra-regional cardíaca pediátrica para a investigação e intervenção de uma arritmia cardíaca. Os atletas de elite (regional e nacional) foram identificados a partir das bases de dados dos departamentos clínicos e arritmia (Outubro de 1997-2007). Pacientes com doença cardíaca congênita significativa foram excluídos.
RESULTADOS: De 657 pacientes submetidos a 680 intervenções, 324 foram excluídos. Dos 333 restantes foram identificadas 11 atletas de elite - futebol (n = 3), artes marciais (n = 2), rugby (n = 2), salto triplo, handebol, canoagem e desportos motorizados (n = 1). Apresentando os sintomas incluíram palpitações (n = 8) e síncope (n = 1). Dois eram assintomáticos e investigado após exames de rotina. O diagnóstico incluiu taquicardia de reentrada atrioventricular (AV) (n = 3), taquicardia de reentrada nódulo AV (n = 4), bloqueio completo do coração (n = 1), disfunção do nódulo sinusal (n = 1), síncope vasovagal (n = 1) e fibrilação atrial pré-estimulado (n = 1). Intervenções arritmicas incluíram implante de monitor de “loop” (n = 2), diagnóstico por estudo eletrofisiológico (n = 9), incluindo a ablação cirúrgica por radiofreqüência (n = 5) crioablação, (n = 2) e implante de marcapasso (n = 2). Após a intervenção, 10 crianças regressaram ao esporte competitivo. Não houve mortes. Nenhuma criança exigiu medicação a longo prazo após a intervenção.
CONCLUSÃO: Dos jovens atletas competitivos identificados a partir do estudo dos autores, houve uma alta incidência de arritmias. A intervenção é geralmente bem sucedido e a maioria dos atletas retornaram para o esporte de elite, sem a necessidade de medicação a longo prazo.


Ciências e Esporte I
Int Heart J. 2010 Jul;51(4):238-41.

Tai Chi é um exercício tradicional chinês de condicionamento que tem sido usado para integrar os movimentos lentos, respiração controlada e concentração mental. O objetivo do estudo foi determinar se o treinamento com Tai Chi em adição a reabilitação cardíaca poderia resultar em um aumento da atividade vagal através dos marcadores autonômicos, tais como a sensibilidade barorreflexa (SBR) e variabilidade da freqüência cardíaca (VFC). Vinte pacientes com doença arterial coronariana (DAC) (masculino / feminino: 13 / 7, com média de idade: 67,8 + 4,2 anos, tempo médio do evento coronariano: 19,8 meses) completou este estudo. O grupo  Tai Chi (n = 10) praticaram o Tai Chi supervisionado 1x por semana e Tai Chi domiciliares treinaram 3x por semana, juntamente com a reabilitação cardíaca convencional de um ano. O grupo controle (n = 10) conduziu apenas a reabilitação cardíaca convencionals. BRS e HRV foram avaliados no início e após um ano de treinamento de Tai Chi. Comparados com os controles, os pacientes do grupo de Tai Chi mostrou uma melhoria estatisticamente significativa em BRS (P = 0,036). Estas associações persistiram após o ajuste para idade e outras variáveis​​. Por outro lado, não houve tendências significativas observadas no VFC.  O treinamentdo com Tai Chi complementar durante a reabilitação cardíaca pode aumentar a regulação reflexo vagal, o que aumenta de forma importante no manejo clínico da doença coronariana.