terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Prof Mônica Adam do nosso NEFCS em destaque - Parabéns pelo brilhante trabalho

ESTUDO Pesquisa revela que esgoto despejado no mar está modificando o material genético do peixe, comum na mesa do pernambucano

A poluição do mar ao largo do Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes, por vezes mascarada pela beleza das praias, atinge até mesmo o DNA dos peixes. É o que revela pesquisa que analisou amostras de tainhas, espécie comum na costa e também na mesa dos pernambucanos.

O estudo quantificou os micronúcleos de células sanguíneas do animal. Os micronúcleos, que orbitam o núcleo celular, se formam naturalmente no processo de divisão celular dos seres vivos. É comum a existência de, no máximo, 15 deles em cada três mil células. Nas tainhas, a equipe da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) encontrou valores até sete vezes maior, revelando que os poluentes afetaram geneticamente os peixes.

As tainhas analisadas caíram na rede a distâncias de até 100 metros das praias de Bairro Novo e Rio Doce, em Olinda, e do Pina e Boa Viagem, no Recife. Em Jaboatão dos Guararapes, o estudo ainda está em curso, mas resultados preliminares revelam quadro de poluição semelhante.

A origem da poluição que afeta o DNA dos peixes, segundo os pesquisadores, é o esgoto. Resíduo de detergente, restos de medicamentos e óleo lubrificante podem causar poluição de grande impacto, exemplifica a professora da UFPE Mônica Adam.

A contaminação dos animais se dá pela pele, pela ingestão, ou pela respiração, que, no caso dos peixes, é feita pelas brânquias, onde o oxigênio da água é retido. Detritívora, a tainha quando adulta come restos que se acumulam no fundo do mar. É também no assoalho marinho onde se depositam muitos dos poluentes carreados pelo esgoto, o que torna o peixe mais vulnerável à sujeira.

Os resultados dos estudos, iniciados em 2010, mostram que a situação das praias de Olinda é ainda pior. Para Mônica Adam, a presença de proteções costeiras e diques nas duas praias avaliadas pode contribuir para o problema.

Os diques causam sérios problemas de circulação de água, principalmente na baixa mar. Associado à intensa urbanização, isso pode favorecer uma concentração maior de poluentes, avalia.

A análise da frequência de micronúcleos é um dos parâmetros da genotoxicidade da água. Substância genotóxicas, lembra a pesquisadora, são potencialmente mutagênicas ou cancerígenas.

Na avaliação de Mônica Adam, as análises dos efeitos dos poluentes sobre o material genético são importantes para avaliar o papel mutagênico e carcinogênico dessas substâncias. E ainda seus possíveis efeitos sobre as populações, uma vez que podem atuar de maneira a diminuir a variabilidade genética.

Os altos valores de células micronucleadas apresentados demonstraram que há danificação genômica nos tecidos dos peixes. Os danos evidenciados no material genético das tainhas sugerem também uma provável exposição a agentes genotóxicos dispersos no meio aquático, entre os quais substâncias tóxicas que se encontram em esgotos domésticos e dejetos (orgânicos e inorgânicos) de embarcações, conclui.


Trabalho vai ser feito em 5 estuários

O estudo da poluição no litoral do Grande Recife, a partir de alterações genéticas de organismos aquáticos, será estendido para cinco estuários de Pernambuco. Além da tainha, a equipe da UFPE vai analisar alterações genéticas em um molusco e um crustáceo.

O projeto de pesquisa, intitulado Genotoxicidade e erosão genética como instrumentos de monitoramento e gestão de ambientes estuarinos no Estado de Pernambuco, será realizado no estuário dos Rios Goiana, em Goiana, Jaguaribe, em Itamaracá, Capibaribe, no Recife, Maracaípe, em Ipojuca, e Rio Formoso, em Tamandaré.

O crustáceo será o guaiamum e o molusco ainda está sendo escolhido. O guaiamum tem como hábitat os sedimentos, assim está exposto predominantemente aos poluentes retidos no substrato, que é o fundo de rios, mares e mangues.

O critério de escolha das espécies a serem estudadas teve como base a sua relação direta e indireta com o ambiente estuarino. Todas são exploradas economicamente pela pesca, estando a espécie de crustáceo incluída na Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Ameaçadas de Extinção, lembra a bióloga.

Em cada um dos estuários serão realizadas coletas em pontos próximos à do conexão do rio com o mar. As coletas serão realizadas nos períodos chuvoso (abril a julho) e seco (agosto a março), respeitando os locais estabelecidos na primeira amostragem. Serão coletados 10 espécimes de cada espécie, em cada ponto.

A contaminação dos estuários, lembra a pesquisadora, se deve principalmente ao despejo de esgoto doméstico. Mas também aos pesticidas utilizados na agropecuária e aos resíduos urbanos.

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