quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Bacharelado Interdisciplinar: uma nova opção?

Opção pela mudança (fonte: http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=11880)

Universidades Federais discutem o projeto Universidade Nova, que pode mudar completamente o perfil curricular do ensino superior no Brasil.

Juliana Holanda

Atentas aos problemas e à nova realidade que exige muito mais de alunos e professores, as Instituições de Ensino Superior começam a dar sinais de que é chegada a hora da mudança.

A Universidade Federal da Bahia iniciou uma campanha pela Universidade Nova, proposta que pode mudar completamente o perfil das universidades brasileiras. No lugar de cursos específicos, os alunos passariam três anos em uma grade de Bacharelados Interdisciplinares, uma espécie de pré-graduação que antecederia a formação profissional. O curso garantiria um diploma de bacharel em área geral de conhecimento. A escolha por dar continuidade aos estudos e obter especialização profissional ficaria a critério do aluno.

O Bacharelado Interdisciplinar se dividiria em quatro grandes áreas de conhecimento: Humanidades, Artes, Ciências ou Tecnologias. O currículo seria composto por Formação Geral Obrigatória, Formação Diferencial (optativas), Formação Profissional, e uma seqüência de cursos-tronco paralelos oferecidos durante todo o programa, como, por exemplo, língua e cultura brasileira e língua estrangeira moderna.

Na Formação Geral, o aluno faria aulas de filosofia, história, antropologia, literatura, entre outros. Na Formação Diferencial, os alunos poderiam optar por fazer módulos de introdução aos cursos profissionais. Os cursos de Formação Profissional seriam optativos e oferecidos somente aos alunos da área de conhecimento do Bacharelado correspondente que concluíssem a Formação Geral. A prioridade de matrícula seria dada por desempenho do aluno na Formação Geral e Diferencial. O modelo segue os padrões americano - College, e europeu - processo de Bolonha. Se desejasse seguir os estudos, o aluno passaria por um processo interno de seleção para a opção que escolhesse: licenciatura, cursos profissionais ou, no caso de estudantes com desempenho excepcional, a possibilidade de ingressar direto na pós-graduação.

Uma proposta mais elaborada do projeto deve ser apresentada no final de março em evento que reunirá as universidades federais. Posteriormente, cada universidade submeterá o projeto ao seu conselho diretor. Levantamento da UFBA comprova que não há impedimento legal para a adoção do modelo, já que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não define estrutura ou função dos cursos de graduação. A expectativa é de que, no caso das instituições que aprovem a proposta rapidamente, o sistema possa ser implementado no ano que vem.

Para o reitor da UFBA, Naomar Monteiro de Almeida, o modelo proporcionará alunos mais maduros e preparados para as respectivas profissões. "Haverá menores taxas de evasão porque as vocações resultarão de escolhas mais conscientes", acredita.

A Universidade de Brasília está entre as 17 instituições federais que se mostraram propensas a adotar o projeto. O reitor da Universidade, Timothy Mulholland, acredita que será uma solução para a expansão do acesso ao ensino superior e que a mudança curricular poderá ajudar na diminuição da evasão.

Pelo princípio da Universidade Nova, os alunos não precisariam se submeter ao vestibular. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) poderia ser usado como processo seletivo. Naomar calcula que a Universidade Nova poderia acolher até o dobro das vagas destinadas aos cursos profissionais e de pós-graduação com maior proporção aluno/docente. Como o Bacharelado Interdisciplinar receberia alunos para formações gerais, o modelo também poderia diluir a competição concentrada em cursos de maior apelo social. Mas Naomar admite que não é possível garantir o acesso a todos. "Haverá vagas, não para todos os candidatos, mas para todos os que se apresentarem com talento, motivação e vocação".

Um dos problemas da evasão, a falta de identificação com o curso escolhido, seria minimizado na Universidade Nova, porque o aluno só escolheria a formação profissional após três anos de contato com o ambiente universitário. Para Roberto Lobo, um dos problemas do atual modelo são as dificuldades que se impõem ao aluno que decide trocar de carreira. "Há obstáculo demais na mudança de curso. A transferência é difícil e o aluno se desencoraja. Um dos passos para combater a evasão é facilitar a vida acadêmica".

O reitor da UFBA, Naomar de Almeida, acredita que a Universidade está muito distante dos alunos. "A sociedade está mudando em uma velocidade cada vez maior, e a universidade velha reprime a mudança. Ninguém pode mudar dentro da universidade. Nem de curso nem de vocação. Nenhuma surpresa com o alto índice de evasão que, para mim, significa mesmo alto índice de decepção".
As escolas particulares poderiam seguir os passos da Universidade Nova, mas teriam algumas dificuldades, na avaliação do consultor Roberto Lobo. A primeira seria o custo de uma grade generalista, que traria a necessidade de contratação de docentes com formação mais integrada. Por outro lado, a união de turmas reduz custos e ajudaria a nivelar as diferenças no primeiro ano de ensino.

Outro problema, na avaliação do consultor Roberto Lobo, é o perfil do estudante brasileiro, ansioso pelo contato com a profissão. "As instituições teriam que explicar ao aluno que ele vai ganhar com uma formação geral. A instituição privada teria que colocar à disposição disciplinas mais profissionalizantes".

O Ministério da Educação se mostrou favorável à proposta. O diretor do Departamento de Desenvolvimento da Educação Superior, Manuel Palácios, declarou que para atender a um maior número de jovens é necessário uma estrutura acadêmica que permita ao estudante construir uma trajetória pessoal de educação. "Se não mexer nisso, vai continuar existindo uma imensa taxa de evasão tanto nas instituições particulares quanto nas públicas."

Para Palacios, a formação interdisciplinar atende à demanda do mercado por profissionais qualificados. "Há poucos empregos claramente associados com a formação tradicional das universidades. Mas existe uma demanda imensa por profissionais qualificados. O profissional precisa se formar com competência para atuar em diferentes áreas".

O reitor da UnB, Timothy Mulholland, concorda. "Muitas vezes a pessoa não é contratada para atuar na área em que se formou, por exemplo, no caso dos sociólogos. Até engenheiros trabalham em outros ramos. Há um descompasso entre o que a Universidade acha que está fazendo e o mercado."


FORMAÇÃO GERAL É COMUM NA EUROPA E NOS ESTADOS UNIDOS

O projeto da Universidade Nova é compatível com os modelos americano e europeu. Nos Estados Unidos, após concluir o segundo grau, os alunos têm diversas ofertas de escolha: universidades, colleges e escolas profissionalizantes. Os estudos universitários ou de colleges são considerados de educação superior. O college pode ser em dois anos, no qual se obtém o chamado associated grade, ou em quatro, o que concede bacharelado. Nos dois primeiros anos de graduação, o aluno recebe uma educação geral, quando são oferecidos os cursos básicos. Nos últimos dois anos, o aluno escolhe uma área de especialização. Também é possível cursar matérias em outras áreas de interesse. A cada aluno é designado um orientador, que o ajuda a planejar o curso e a prepará-lo para os estudos de pós-graduação.
O modelo europeu foi unificado pelo processo de Bolonha a partir de 1998. O objetivo foi harmonizar os currículos e permitir que estudantes de qualquer instituição de ensino superior pudessem iniciar a formação acadêmica, continuar os estudos, concluir a formação superior e obter um diploma europeu reconhecido em qualquer universidade dos estados membros.
No processo de Bolonha, cuja meta de implantação total é para 2010, o Ensino Superior passará a ser organizado em três ciclos: o primeiro, com duração de três anos, correspondente ao grau de Licenciatura; o segundo, de dois anos, correspondente ao grau de mestre; e o terceiro, com duração de três anos, correspondente ao grau de doutor.
A introdução generalizada do sistema de créditos em todos os tipos de formação vai permitir a acumulação dos créditos, facilitando a transferência dos estudantes de um curso para outro.

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